Esperança
Esperança nasceu na primavera
Sabiás cantavam mais alto
João-de-barro coletava material para o novo ninho
Os olhos úmidos da mãe, Maria da Paz, derramavam carinho
Aninhava o futuro no próprio colo
Transbordante sensação de vitória
Embora o medo ainda se aconchegasse entre os lençóis
Seria mesmo verdade que tudo havia ficado para trás?
Perduravam pensamentos de dor e saudade
Pai e avós, Esperança só conheceria por fotos
E alguns vídeos de tempos tão remotos
Tempos de pessoas sempre tão próximas
Que mal notavam umas às outras
Tantos se foram sem adeus, que parece que nem se foram completamente
Esses e mais tantos mortos
Se espremem agora naquele quarto para ver o rostinho de Esperança
A mãe erguia a roupinha
E aquele corpinho tão fino e pequenino
Seria o primeiro a receber a nova vacina
Deixe um comentário